Murilo Rubião fez de sua vida um vasto painel dividido entre as cores da literatura fantástica e as da ordem burocrática, entre as amizades artístico-literárias e as difíceis negociações entre a cultura e o poder em um país de capitalismo periférico.
Os trabalhos que Murilo desenvolveu junto à ordem pública, ao Estado, estiveram, em sua grande parte, relacionados à liderança e às articulações na área cultural. Rubião ocupou diversos e importantes cargos em setores da cultura mineira ligados à radiodifusão, às artes plásticas, à literatura, ao canto coral etc. Sua visão de arte é plena, múltipla. Assemelha-se à ideia de Mário de Andrade de que a arte é uma só e que se reparte em várias expressões, mas o artista precisa entender o funcionamento desse campo maior, do imbricamento dos diversos discursos artísticos, antes de se prender a apenas uma linguagem, o que o limitaria.
É assim que Rubião tomou a bandeira do funcionalismo como intelectual ligado à política cultural. Infiltrado nas malhas do poder, o escritor pôde representar os artistas e escritores, principalmente os mineiros, procurando abrir frestas por onde puderam passar e ganhar visibilidade importantes produções culturais.
Entre os cargos que ocupou, devemos destacar o de diretor, por duas vezes, da Rádio Inconfidência, o de Diretor da Imprensa Oficial de Minas Gerais, o de diretor da Escola de Artes plásticas Guignard, diretor da FAOP (Fundação de Arte de Ouro Preto), presidente da Fundação Madrigal Renascentista, presidente do Conselho Estadual de Cultura de Minas Gerais, etc. Paralelamente à sua extensa vida de homem público,Murilo foi também consolidando cada vez maisseu lugar como um dos melhores expoentes da literatura brasileira do século XX, principalmente em relação ao gênero conto.