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Os hipertextos de Murilo
Vivendo em um tempo anterior à internet, à facilidade e rapidez da comunicação contemporânea, ao hipertexto, Murilo Rubião abriu grandes leques hipertexuais. As cartas que escreveu e recebeu tanto trazem um direcionamento mais factual, ligado a questões pontuais do mundo da vida, à ajuda aos amigos - como podemos ver naquelas recebidas de João Cabral de Melo Neto ou de Murilo Mendes, como também trazem profundas reflexões sobre a vida e a arte literária, como podemos ver naquelas recebidas de Mário de Andrade e Fernando Sabino.
As correspondências, por um lado, mostram alguns laços mais circunstanciais e interesses mais imediatos, de acordo com os cargos que Murilo ocupara na Rádio Inconfidência, no Suplemento Literário, na Fundação de Arte de Ouro Preto, etc. Mas mostram também o discurso acolhedor e ácido daqueles que permaneceram amigos a vida inteira, como Otto Lara Resende, Paulo Mendes Campos, Hélio Pellegrino e Fernando Sabino, entre outros.
A grande rede hipertextual trançada por Murilo Rubião diz muito de seu caráter de homem público, amigo de críticos, escritores e poetas representantes das mais diversas correntes intelectuais, como notamos, por exemplo, na correspondência com Antônio Candido e Haroldo de Campos. Murilo quebra barreiras, mostra-se um homem moderno, não sectário, aberto a múltiplas possibilidades de relacionamento, de “negociação” e de invenção. Assim, sem ter medo do desafio, sem se furtar ao estranhamento, ao que é diferente mas pode caminhar ao lado, desenhou em fortes cores a sua vida e a sua produção artística.
De forma subliminar, através das cartas e das críticas aqui presentes - uma mostra das centenas de documentos presentes no acervo do escritor -, conhecemos melhor não só Murilo Rubião, mas também aspectos fundamentais da arte e da cultura mineira e brasileira do século XX. E o escritor deixou aí sua assinatura firme e sonhadora.
Através dos textos e hipertextos podemos conhecer singulares desdobramentos da vida de Murilo, seus momentos de conquista e de perda; o homem que acreditava nos jovens talentos e na cultura mineira; que esteve à frente do governo JK em Minas, mas que posteriormente teve seus momentos de angústia frente ao descaso com a produção cultural; que passou anos sem que ninguém quisesse publicá-lo, mas como resposta criou o Suplemento Literário para publicar todos aqueles que tinham algo a dizer; que gostava de viver só em Belo Horizonte, mas sempre nos bares, cercado de amigos; e que, ao escrever, repetia, repetia para ser cada vez mais surpreendente.
Roniere Menezes
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